Massagem Biodinâmica

Massagem Biodinâmica faz parte da Psicologia Biodinâmica, que é um método de tratamento criado pela psicóloga e fisioterapeuta norueguesa Gerda Boyesen na década de 1960. Trata-se de um conjunto de teorias e técnicas de massagem que propiciam a saúde física, emocional e espiritual, perante uma forma de tocar que respeita a singularidade de cada ser humano, sempre com base no desenvolvimento e instalação de um relacionamento seguro, com presença, suporte, empatia, atenção, observação contínua e ressonância.

Massagem Biodinâmica é um tratamento completo, vinculada a questões psicológicas, cuja gama de métodos podem ser usados dentro de um processo de psicoterapia, de acordo com as necessidades do cliente. Pode ser utilizada de forma benéfica em todos as terapias e tratamentos clínicos existentes, de forma a facilitar o desbloqueio de questões físicas e emocionais, sendo que o conceito de autorregulação se coloca na cena principal.

Segundo Reich, a autorregulação é, na sua essência, a capacidade do ser humano de ouvir a sua própria natureza, de estar em contato com suas próprias necessidades, permitindo que o organismo cumpra o seu fluxo de carga e descarga das emoções, tensões, traumas. Esta capacidade inata é comum aos animais, no entanto, no caso do Homem que vive inserido numa cultura e contextos bio-psico-socioeconómicos, sofre a interferência dos centros cerebrais superiores responsáveis pela linguagem, pelo pensamento etc. Atingir a autorregulação é, portanto, uma das finalidades da Psicologia Biodinâmica.

A Psicologia Biodinâmica, desenvolvida por Gerda Boyesen, estuda e trata dos processos psicológicos no contexto amplo do processo de vida de um indivíduo. Os processos “da mente” e “do corpo” são vistos como aspetos em interfuncionamento de um único desenvolvimento biodinâmico (Cadernos v.1, 1983, p.9).

Tendo como primeiros alicerces as ideias de Reich e a terapia com Raknes, Boyesen viria a construir as bases da Psicologia Biodinâmica, que faz da massagem, do relaxamento dinâmico e da escuta do impulso interior os seus principais recursos terapêuticos, sendo “o nosso corpo a inscrição viva do nosso percurso existencial” (Aldrighi, 2014, p.64).

A ideia de que o trabalho corporal produz efeitos no âmbito psicológico e de que através da massagem se tocam as “entranhas psíquicas” do indivíduo é a base da teoria de Gerda. Neste sentido, no seu livro “Entre Psique e Soma”, encontramos a referência de que a Massagem Biodinâmica é “uma massagem que funciona como psicanálise”, onde “A autorregulação consiste na prática diária da abertura do psicoperistaltismo que permite dissolver as tensões do dia” (Boyesen, G., “Entre Psique e Soma”, p.87). É, portanto, natural, que em determinadas sessões o terapeuta faça recurso de um estetoscópio adaptado, de forma a captar os sons peristálticos do cliente, deixando-se guiar e conduzir através dos mesmos, de forma a atingir a pretendida autorregulação.

Ao usar toques e massagem (ou mesmo nos momentos em que a pessoa partilha algo sobre si), o organismo pode libertar reações vegetativas que foram inibidas durante o trauma (como choro, contrações musculares, tremores, movimentos involuntários, etc.). A excitação excessiva vai, portanto, sendo descarregada, permitindo restabelecer-se a função natural do organismo de autorregulação. A descarga suave torna, assim, menos “assustador” o contacto com as correntes vegetativas, entrando neste ponto o importante papel do terapeuta biodinâmico que, com a sua postura respeitosa, acolhedora, empática e consciente do ritmo diferente para cada organismo e da sua responsabilidade ao ser testemunha da história do seu cliente, cria um ambiente seguro e convoca a expressão do movimento que foi interrompido na situação traumática. A presença calma, tranquila e tolerante do terapeuta, com a sua presença firme e fala suave, é descrita por Gerda como “a de uma parteira que acompanha o nascimento do bebé”, estabelecendo um ambiente propício à confiança, ao contacto e à expressão das emoções. Todo este processo vai abrindo um caminho para que o sistema nervoso recupere o movimento natural entre a atuação simpática e parassimpática, ou seja, entre a ativação e o relaxamento.

Este é, assim, um trabalho que facilita o mergulho na alma de cada ser, onde a história do cliente (a sua relação com o momento atual, os relacionamentos, as dificuldades, as repetições e padrões, etc.) é trazida à consciência, permitindo assim uma integração dos processos de forma acolhedora e amorosa, sempre em amizade com a resistência e através do princípio do prazer.

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